Lili se considerava um verdadeiro chuchu: sem graça. Mas na
realidade era cheinha de qualidades, que só ela não enxergava. Tinha a mania de
achar suas amigas muito mais bonitas e interessantes. Também morria de vontade
de dançar nas festas e dar sua opinião durante discussões, mas acabava nunca
fazendo nenhuma das duas coisas, por medo e vergonha de que a achassem burra e ridícula.
Outro detalhe sobre
Lili: era DOIDA para arranjar um namorado. Sempre que saia com os amigos era o
castiçal da turma. Todos sempre acompanhados, e ela sempre sozinha.
Já viu tudo né? Quem
procura acha e nem sempre o achado é dos bons.
Lili e Pedroca
conheceram-se numa festa da prima do rapaz, que por coincidência também era
amiga de Lili. Os dois deram uns amassos, bateram um papo, deram mais alguns
amassos e trocaram os números do whatsapp. Conversaram durante dias. Numa das
conversas Pedroca disse que queria vê-la novamente, queria dizer algo a ela, só
que pessoalmente. Combinaram de se encontrar noutra festinha.
Lili estava nas
nuvens! Mas é claro que ele ia pedi-la em namoro! Arrumou-se como quase nunca
fazia, queria impressionar. De vestidinho preto e batom vermelho, sentindo-se
poderosíssima, como quase nunca, partiu para a festa.
Chegou arrasando. Pela primeira vez estava confiante, sem
medo de ser ela mesma. Arrancou olhares admirados de todos, menos de Pedroca. É claro
que ele olhou para ela, mas o olhar não foi de admiração. Cumprimentou-a dum
jeito meio sem graça e sentaram-se num sofá.
Conversaram um pouco, até que Lili perguntou: “Então, o que
você queria me dizer?”. Pedroca sorriu e disse: “Eu queria te pedir em namoro”,
os olhos da moça brilharam “Só que... Você sempre sai assim? Com esse tipo de maquiagem?”
A moça não entendeu a pergunta. Ele continuou: “É que não gosto de menina que
usa batom muito forte. Acho que tira a beleza natural, sabe?” Lili ficou quieta
por alguns instantes, pensativa. Ele era a chance dela desencalhar e deixar o
posto de castiçal, mas será que valia a pena? Aquela roupa e aquele batom
fizeram com que ela se sentisse tão bem... Sua avó sempre dizia: “Deixe de bobagem e mostre para o mundo quem
você realmente é !” Pela primeira vez,
naquela noite, ela havia feito isso.
Levantou-se do sofá e
disse ao rapaz: “É... realmente acho que a gente não ia dar certo. Eu amo batom
vermelho!” Virou-se e foi direto para a pista de dança.
Divertiu-se horrores.
Dançou a noite toda e foi para casa
feliz da vida, sem namorado mas, com a certeza de como é bom ser a gente mesmo.
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