Perto da minha casa tem um parque. Neste
parque há um piano, que fica em um dos vários jardins repletos de flores
coloridas. Neste jardim específico, diferentemente dos outros, há somente um
banco de madeira.
Vou ao parque todas as segundas-feiras e
sento-me neste banco. Há sempre alguém tocando o piano , um homem. Sei quem ele
é. Fica sentado em frente aos portões do parque numa caixa de papelão, fumando
um cachimbo. Está sempre sujo e maltrapilho. Acho que é um morador de rua. Seu
cabelo é desgrenhado, os calçados furados e tem olhos tristes.
Tenho de dizer que fico bastante
impressionada e pensativa ao ouvi-lo tocar. Penso como ele tem sorte por ser
tão bom pianista. A música é algo tão belo, tão cheio de emoções. Pode fazer com
que alguém chore, ria. Pode fazer com que um momento se torne bom. Pode acalmar
ou agitar. A música dá vida à vida.
Mas ao
mesmo tempo, penso o porquê daquele exímio pianista viver nas ruas, ter
expressões tristes e sofridas. Pergunto-me se aquele homem sempre viveu assim.
Com certa angústia no peito, penso que
talvez o piano no meio do jardim seja sua válvula de escape. Talvez faça com
que durante um breve período de tempo esqueça as coisas ruins e lembre-se das
boas.
Toda vez que vou ao
parque tenho vontade de perguntar quem o ensinou a tocar, mas nunca
pergunto. Acho que falarei com ele na próxima segunda...
©Reprodução
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