quinta-feira, 20 de agosto de 2015

O pianista



 Perto da minha casa tem um parque. Neste parque há um piano, que fica em um dos vários jardins repletos de flores coloridas. Neste jardim específico, diferentemente dos outros, há somente um banco de madeira.
   Vou ao parque todas as segundas-feiras e sento-me neste banco. Há sempre alguém tocando o piano , um homem. Sei quem ele é. Fica sentado em frente aos portões do parque numa caixa de papelão, fumando um cachimbo. Está sempre sujo e maltrapilho. Acho que é um morador de rua. Seu cabelo é desgrenhado, os calçados furados e tem olhos tristes.
   Tenho de dizer que fico bastante impressionada e pensativa ao ouvi-lo tocar. Penso como ele tem sorte por ser tão bom pianista. A música é algo tão belo, tão cheio de emoções. Pode fazer com que alguém chore, ria. Pode fazer com que um momento se torne bom. Pode acalmar ou agitar. A música dá vida à vida.
  Mas ao mesmo tempo, penso o porquê daquele exímio pianista viver nas ruas, ter expressões tristes e sofridas. Pergunto-me se aquele homem sempre viveu assim.
   Com certa angústia no peito, penso que talvez o piano no meio do jardim seja sua válvula de escape. Talvez faça com que durante um breve período de tempo esqueça as coisas ruins e lembre-se das boas.

    Toda vez que vou ao parque tenho vontade de perguntar  quem o ensinou a tocar, mas nunca pergunto. Acho que falarei com ele na próxima segunda...



©Reprodução

Nenhum comentário:

Postar um comentário